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No
dia 8 de março de 1857, 129 operárias e 23 operários têxteis foram
queimados vivos pela polícia no interior de uma fábrica na cidade de
Nova York, Estados Unidos, durante uma greve de ocupação em defesa da
jornada de oito horas e melhores condições de trabalho. Em 1911, o
Segundo Congresso Internacional de Mulheres, realizado pela II
Internacional Socialista em Copenhague (Dinamarca), institui o 8 de
Março como Dia Internacional da Mulher.
É
sob o signo do proletariado, pois, que a luta da mulher trabalhadora
emerge no cenário mundial enquanto bandeira da revolução socialista e da
libertação geral da humanidade. Todas as lutas mais significativas do
proletariado feminino de até então são unificadas sob a bandeira geral
da revolução. Todos os partidos do operariado, nascidos no quadro do
aguçamento das lutas de classes nas primeiras décadas da segunda metade
do século XIX, inscrevem em seus programas e plataformas de lutas as
reivindicações em defesa da dignidade da mulher trabalhadora.
Em
razão desses eventos históricos, e no marco dos mesmos, é que podemos
identificar as raízes mais profundas da transformação do movimento
original da mulher proletária naquilo que é hoje em nível mundial: um
movimento esmagadoramente pequeno-burguês, conciliador e anticomunista. O
que assistimos hoje, tanto no centro quanto na periferia capitalista, é
a uma inversão abertamente reacionária e conservadora entre meios e
fins da luta revolucionária. Deixemos de lado, por não mais que
sintomas, comportamentos individuais e grupais de homens e mulheres
indistintos do ponto de vista de classe, que, por caricaturais e
raivosos, mais não fazem que levar seus atores ao ridículo.
Do
nosso lado, enquanto leninistas, nos cabe criticar e combater partidos e
organizações de esquerda empenhados em desclassificar – no sentido
literal do termo – a luta pela libertação da mulher, isolando-a da luta
revolucionária pela libertação do proletariado e da própria libertação
da humanidade. Fora deste contexto, as bandeiras deste feminismo
conservador e reacionário sempre acabam em descambar para a conciliação
de classes e para o anticomunismo. Participar destes movimentos na
tentativa tão infantil quanto inútil de ‘influenciá-los’ ou, no jargão
gramsciano, ‘hegemonizá-los’ na verdade resultará sempre em engrossar
suas hostes, ser usados por eles. Em ser coniventes com tal
deterioração. Em ser cúmplices.
Há
marcos nesta trajetória de decadência. No início dos anos 50 do século
passado, a filósofa existencialista – pequeno-burguesa, portanto –
Simone de Beauvoir publica seu livro “O Segundo Sexo” atribuindo
historicamente aos “homens de todas classes e partidos” a
responsabilidade por todas as formas de opressão e injustiça sofridas
pelas mulheres ao longo dos tempos. Isso não é verdade, é mentira. Os
marxistas não podem compactuar com tal absurdo, aliás, princípio bíblico
adotado pelos feministas atuais, inclusive por alguns que se dizem
marxistas. Como sabemos os materialistas dialéticos, a exploração e a
opressão que vitimam as mulheres nasceram com a propriedade privada dos
meios de produção, a exploração e opressão são filhas legítimas da
propriedade privada. E só poderão ser extintas com a extinção da
propriedade privada, através de uma revolução socialista e da construção
do comunismo. Axiomático. Outra bobagem, esta ainda mais primária,
proferida pela senhora Beauvoir é a de que as mulheres não nascem
mulheres, mas são feitas mulheres pela opressão exercida pelos homens.
Este bonitinho jogo de palavras, além de fazer a festa de antropólogos
burgueses e assemelhados albergados na decadente academia burguesa – a
brasileira à frente –, mistura primariamente o natural com o social,
instrumentalizando, inclusive, uma mais que estúpida corrente deste
feminismo alienado em suas cruzadas contra os integrantes do sexo
masculino.
Com
o advento do neoliberalismo e sua consequente ideologia geral
culturalista, a decadência assume dimensões de tragédia. O
aprofundamento da concentração da riqueza e a ampliação de um
sofisticado mercado de consumo em nível mundial – simultaneamente à
ampliação e aprofundamento da miséria do proletariado – instalam no
campo político da esquerda o imediatismo e o abandono dos objetivos
finais da revolução proletária enquanto métodos basilares de suas
práticas políticas. Agora, este feminismo reacionário, individualista e
contrarrevolucionário se alia aos movimentos étnico-raciais e
autodeclarados de defesa de direitos homossexuais. Todos eles enlameados
pela marca do individualismo e do corporativismo, bem a gosto do
paladar pequeno-burguês. A unificá-los, a meta estratégico-programática
de integrar as chamadas minorias ao sistema e sociedades capitalistas,
não a de instalar revolucionariamente outra sociedade em substituição a
este capitalismo, à instituição propriedade privada. Por isso, esta
estratégia integracionista acaba por fortalecer a própria sociedade
capitalista em que exerce sua prática. Nos Estados Unidos, o movimento
negro revolucionário foi derrotado, pelo estado e pela ideologia
pequeno-burguesa, e substituído por um movimento integracionista. Daí,
as Condolezzas Rice e Collin Powers da vida. Na Europa, Margareth
Thatcher e Angela Merkel – para ficar em poucos dos nomes cevados no
lodo pútrido da ideologia das classes dominantes.
E
aqui entramos em uma questão absolutamente decisiva. Temos os marxistas
e leninistas a inarredável convicção de que a sociedade comunista que
queremos – e vamos – construir jamais terá o mais pálido que seja traço
de dignidade se nela persistirem práticas e/ou instituições que abriguem
por mínimos que sejam atos e atitudes marcadas por qualquer tipo de
opressão, discriminação, ofensa e injúria por motivo de gênero, raça,
etnia, crença e sexualidade. A liberdade por que lutamos é
intransigentemente incompatível com esta ideologia repugnante.
E
agora, hoje, no interior de sociedades capitalistas, devemos os
marxistas lutar contra tais ideias e práticas opressoras, repugnantes?
Podemos
e devemos. E para sermos coerentes com o próprio marxismo, temos que
lutar na linha de incluir este combate no interior da luta
revolucionária do proletariado, pela revolução socialista. E isto inclui
o próprio combate às correntes integracionistas que se apropriaram
fraudulentamente das bandeiras libertárias das lutas contra o sexismo, o
racismo, a homofobia. Sim, é possível e necessário incluir estas lutas
hoje em nossas agendas. E vamos fazê-lo, temos que fazê-lo. Do ponto de
vista de método, é preciso reverter aquela inversão de principalidades a
que nos referimos no início deste texto, inversão operada pela
ideologia pequeno-burguesa. A prática marxista a ser desenvolvida,
então, exige a inclusão das lutas contra as chamadas opressões no
interior da estratégia geral da revolução na qualidade de lutas
determinadas por esta estratégia, e não determinantes da estratégia
proletária. E deixamos claro: nossa luta estratégico-programática é
contra o capitalismo, contra a classe capitalista. Não contra machos ou
fêmeas, não contra brancos ou negros, não contra heterossexuais ou
homossexuais. Enfim, a luta final (pela revolução proletária,
socialista, classista) é que deve condicionar a luta parcial (lutas
sindicais e antidiscriminatórias).
Assim determina o método marxista. Assim determina o método leninista. E assim temos que fazer e faremos.
Venceremos!